Sem provas de fogo

há um esforço indiscriminado de abusos e ataques às ONGs e ativistas no país. Não é preciso ir longe para se lembrar que acusações parecidas já foram realizadas.


Nesta semana, quatro ambientalistas que lutaram contra as queimadas na região de Alter do Chão (PA) foram presos, acusados de iniciar o incêndio em troca de arrecadação de verba. Até o momento, não foram encontradas provas concretas, as investigações continuam, mas eles respondem em liberdade.  

O caso voltou a acender um alerta que tem se estendido por todo o ano: há um esforço indiscriminado de abusos e ataques às ONGs e ativistas no país. Não é preciso ir longe para se lembrar que acusações parecidas já foram realizadas após uma das maiores queimadas da Amazônia e também com as manchas de óleo nas praias do Nordeste, para citar apenas dois exemplos recentes. 

No caso de Alter do Chão, nos deparamos mais uma vez com o conflito de interesses entre a geração de lucro e o desenvolvimento sustentável. Nesse debate, são envolvidos temas como especulação imobiliária, promoção do turismo e até a pressão de grileiros em terras públicas, segundo o Ministério Público Federal.

Na tarde de ontem, quinta-feira, a Justiça determinou a soltura dos quatro brigadistas, que são, na verdade, considerados “guardiões da floresta”.

Isso acontece em um momento que essas mesmas organizações temem, cada vez mais, e com motivos concretos, iniciativas minam os direitos humanos no país. 

As ONGs são essenciais para a democracia e merecem respeito. Elas contribuem para a produção de conhecimento, para propor soluções e, principalmente, para promover o debate. Elas cobram as autoridades e se nosso sistema não se mostra aberto, isso se torna um gravíssimo sinal de que a democracia começou a ruir.

Não podemos permitir que o argumento de “garantia da ordem pública”, como o utilizado nas prisões de Alter do Chão, seja utilizado como ferramenta para causar ainda mais desordem e danos irreversíveis à vida daqueles que sofrem acusações infundadas. As prisões não devem ser tratadas como “revanches”, seja de quem for. Viver em sociedade é, na verdade, exatamente o contrário de se deixar guiar por desejos particulares, mas algumas pessoas parecem ter se esquecido disso. 


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