Clube da Preta aumenta em até 30% vendas de produtos de afro-empreendedores

A ideia de incluir apenas marcas de pessoas negras era fazer com que as empresas tivessem visibilidade no mercado e, dessa forma, aumentar o retorno financeiro, dentro e fora do clube.

Clube da Preta

Texto: Esmeralda Angelica

Fotos Bruno Brígida

Débora Luz, 31 anos, é museóloga e produtora de conteúdo nas redes sociais e sempre frequentou as conhecidas feiras de empreendedorismo, que, em sua maioria, eram de afroempreendedores. Com o seu trabalho de influenciadora na internet, Débora observou uma reclamação em comum das marcas que a patrocinavam — a maioria de roupas e acessórios gerenciadas por mulheres negras: “Elas me diziam que tinha um período de alta de vendas anuais em três meses: novembro, mês da consciência negra, dezembro, mês das festas, e janeiro que era queima de estoque”. 

Pensando na necessidade das marcas venderem a mesma quantidade em outros meses, Débora se uniu ao seu namorado, Bruno Brígida, e, juntos, criaram em 2017 o Clube da Preta — uma empresa de assinaturas de recorrência mensal, que tem o objetivo de engajar afroempreendedores com a oportunidade de rentabilidade constante. Com as assinaturas do clube, a empresa consegue gerar em média 30% a mais no número de vendas das marcas, fazendo com que conquistem estabilidade e sucesso nos negócios.

Contudo, a pandemia fez alguns empreendimentos fecharem e, consequentemente, a base de contatos diminuiu. Contudo, desde o surgimento da empresa até os dias atuais, mais de 1.500 empreendimentos já foram atendidos pelo clube. Débora lembra de uma específica de acessórios que, em 6 meses de lançamento, só havia feito uma venda via Instagram. “Quando as donas trouxeram as peças para fotografarmos, demos muitas dicas de como chamar atenção dos clientes e também indicamos alguns cursos gratuitos que poderiam ajudá-las na composição visual para atrair os clientes.

Depois de entrar pro clube, atualmente, elas fazem cerca de 4 vendas por dia pelas redes sociais e têm crescido significativamente”, lembra. Débora notou que, ao dar oportunidades para novos negócios através de sua empresa, o comportamento dos empreendedores também muda — eles têm mais curiosidade em procurar por conhecimento para melhorar os negócios.

“Ambos tinham a sede de empreender, mas empreender com propósito, algo que gerasse impacto e devolvesse algum valor para a sociedade”, conta. A ideia de incluir apenas marcas de pessoas negras era fazer com que as empresas tivessem visibilidade no mercado e, dessa forma, aumentar o retorno financeiro, dentro e fora do clube. “A galera preta sempre empreendeu na raça, queríamos trabalhar com retorno de valor para essas pessoas que tinham uma certa carência de mercado”, diz Débora. Quem assina o clube tem duas opções de planos: Plano Estilo, com peças de roupas e itens da moda, e o Plano Essencial, com opções de livros e também peças de roupa.

O casal separa as marcas que entrarão nas assinaturas através de pesquisas nas redes sociais ou os próprios donos entram em contato. Depois, começa o processo de entender a avaliação dos clientes sobre a qualidade desses produtos. Débora conta que busca itens que tenham autenticidade, para que os clientes sintam exclusividade com os recebidos — afinal, cada box é personalizada de acordo com um perfil traçado no ato da assinatura. São cerca de 50 produtos comprados por ela e o sócio de cada marca mensalmente, equivalente a 2.000 reais em retorno financeiro individual.

Os desafios durante a pandemia

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em abril de 2020, mês em que a pandemia se intensificava no Brasil, apontou que cerca de 62% dos empreendedores interromperam suas atividades temporariamente ou definitivamente, e quase 88% viram o faturamento cair em quase 75%. Com o Clube da Preta e seus fornecedores, não foi diferente.

O projeto ficou parado por 4 meses com a chegada do vírus, pois os clientes não desejavam mais receber as caixas em suas casas. “Alguns assinantes acreditavam muito no nosso negócio e pagavam uma taxa de porcentagem pro nosso negócio sobreviver, ficamos bem surpresos com a iniciativa”, relata.

Já sobre os empreendedores que conseguiram manter seus negócios de alguma forma, Débora sentiu uma alta nos preços das peças oferecidas; muitos deles pararam suas fabricações e, quando voltaram, estavam com valores muito acima do normal, gerando uma certa dificuldade para montar as caixas mensais. Apesar dos desafios, houve um aumento de 46% da base de clientes, e o clube manteve a renda de 2019, de 177 mil no ano de 2020.


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