Coletivo Helen Keller promove inserção de mulheres com deficiência no feminismo

Quantos coletivos feministas existem no Brasil? E quantos deles incluem as mulheres com deficiência? Foi essa pergunta que impulsionou seis mulheres a se articularem para promover a emancipação feminina com deficiência dentro desses movimentos.

Texto: Esmeralda Angelica

Fotos: Coletivo Helen Keller

Quantos coletivos feministas existem no Brasil? E quantos deles incluem as mulheres com deficiência? Foi essa pergunta que impulsionou seis mulheres a se articularem para promover a emancipação feminina com deficiência dentro desses movimentos. Em 2018, de forma totalmente online, Vitória Bernardes, Bruna Rocha, Fernanda Vicari, Carolini Constantino, Fatine Oliveira e Fernanda Shcolnick, todas com deficiência e cada uma de um estado brasileiro, se uniram para pautar as suas necessidades que, por vezes, são colocadas para fora das lutas progressistas.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que há no mundo mais de um bilhão de pessoas com deficiência. Destas, cerca de 45 milhões vivem no Brasil. Mulheres representam  26,5% deste total; em relação à raça, 30,9% de mulheres que possuem algum tipo de deficiência são negras.

“Nenhuma de nós encontrávamos espaço para discutir nossas pautas dentro dos movimentos feministas. Nos unimos mesmo a distância e fomos nos formando coletivamente, pensando na necessidade de cada uma”, explica Carolini Constantino, de 30 anos, uma das fundadoras. Assim, nasceu o coletivo Helen Keller de Mulheres com Deficiência. O nome é em homenagem à escritora, ativista e professora norte-americana, que perdeu a visão e a audição antes de completar um ano de idade. O grupo pauta a intersecção entre gênero e deficiência na construção de uma agenda política.

O objetivo é debater as demandas das mulheres PCDs com os demais movimentos feministas e de mulheres. Afinal, a estrutura capacitista da sociedade dificulta ou impede o acesso à cidadania, e também acentua a desigualdade de classe, a misoginia, o sexismo, o racismo e a LGBTfobia. Atualmente, o coletivo já conta com mais de 60 integrantes de todo o país. Mas o trabalho está longe de acabar: além de fortalecer a comunidade para que se torne tão forte quanto as demais frentes de luta, existe o desafio de incluir a pauta anticapacitista em outros coletivos. “Por mais que tenhamos várias pautas, estamos sempre buscando aliadas, não só contra o machismo, mas o racismo e o capacitismo”, conta Carolini.

Guia para mulheres com deficiência

Pensando em todas as necessidades enquanto um movimento que busca por transformações, em 2020 elas lançaram o guia “Mulheres com Deficiência: Garantia de Direitos para Exercício da Cidadania”, que, segundo Carolini, é um instrumento de informação para que mulheres PCDs possam exercer sua cidadania de forma digna.

“Construímos pensando nas mulheres com deficiência, mas, ao mesmo tempo, realizamos nossa vontade de falar com a sociedade e também com outros coletivos feministas. Nossa intenção maior é colocar nosso feminismo no mapa”, explica. Através do documento, muitas mulheres ingressaram no coletivo, e o Helen Keller foi convidado para participar de palestras e rodas de conversas, fazendo com que o grupo ficasse cada vez mais conhecido.

A elaboração do guia ficou por conta das integrantes, desde a ilustração, audiodescrição e produção de textos. Pensando na pauta que sempre levantam, que é a inclusão de todas mulheres, o guia contou com a participação de mulheres indígenas, ativistas pelo direito das mulheres que vivem com HIV, sindicalistas, mulheres negras, e também as que lutam contra a gordofobia. “Queríamos trazer uma reflexão dentro de cada coletivo sobre o quão inseridos na luta anticapacista eles estão, e como esse movimento está dentro de suas pautas. Foi um convite e também uma provocação para que elas pensassem em como o feminismo precisa de interseccionalidade”, explica Carolini.

Nesse processo, elas também contaram com o apoio da União Europeia, através de parcerias com empresas como ABONG, CAMPI, SESI E SEFEMIA. Por não terem CNPJ, Caroline conta que só foi possível receber o recurso para o desenvolvimento do guia por meio de associações e entidades que as apoiam.

Para contribuir com o trabalho do coletivo ou fazer parte do grupo, basta entrar em contato através das redes sociais ou pelo e-mail: coletivofeministahelenkeller@gmail.com


Compartilhe:

Linkedin Facebook Whatsapp