A naturalização do racismo

Todos os indicadores sociais, seja de escolaridade, emprego ou condições de moradia, expressam como o racismo tem papel determinante na organização da sociedade. 

A morte de George Floyd na semana passada nos EUA foi o estopim para uma onda de protestos contra o racismo e a violência, no mundo todo. A ultrajante cena gravada e viralizada globalmente não é um acontecimento isolado na vida da população negra, seja nos Estados Unidos ou Brasil.

Infelizmente, violência policial e racismo são casos frequentes na vida de negros e negras, grupo que representa 54% da população brasileira. Todos os indicadores sociais, seja de escolaridade, emprego ou condições de moradia, expressam como o racismo tem papel determinante na organização da sociedade.  É o racismo que garante a exclusão histórica do povo negro dos espaços de decisão e poder. É o racismo que faz com que negros tenham seus direitos negados. Estes fatores criaram um abismo econômico e social que impede essa parcela da população de avançar.

O mito da democracia racial

Por muitos anos, temos acreditado no mito da  democracia racial no país, onde brancos e negros teoricamente convivem em plena paz e igualdade. O fato é que falhamos como sociedade ao invisibilizarmos o racismo e tornarmos comuns ferramentas de exclusão da população negra – nas escolas, universidades, empresas e outros espaços.

Em nosso país, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado sem que haja qualquer tipo de consequência política ou social. Mulheres negras recebem menos da metade do salário de um homem branco na mesma posição e nível de instrução e são as maiores vítimas de feminicídio no país.
Aqui o racismo é estrutural e faz parte da nossa cultura.

É resultado de um processo histórico de mais de 300 anos de escravidão, cuja grande parte dos registros históricos foram destruídos, como se a ausência desses documentos pudesse apagar o horror que o povo negro viveu por tantos anos, depois lançado à própria sorte, sem ações compensatórias, após leis de libertação.

Não podemos naturalizar a morte violenta de um jovem negro de 14 anos, dentro da sua própria casa, alvo de mais de 70 tiros da polícia. Enquanto aceitarmos esse tipo de violência e injustiça baseada na cor da pele, regredimos como sociedade.

Desnaturalizando o racismo

É responsabilidade de todos eliminar esse mal da nossa sociedade. Ao longo da semana, vimos campanhas contra o racismo nas redes sociais, mas não bastam hashtags. É preciso ação. Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.

Levantamento da revista Exame mostra que nenhuma das 25 marcas mais valiosas do Brasil (segundo a lista da consultoria Interbrand) fez publicações sobre o tema nas últimas duas semanas. Há pouca diversidade racial na maior parte das empresas, o que só piora conforme aumenta o salário. Segundo pesquisa do Instituto Ethos, mulheres negras correspondem a apenas 0,4% dos quadros executivos das maiores empresas do país.

É preciso reconhecer que o racismo faz parte da nossa formação como brasileiros e desenvolver ações para combatê-lo, por meio de mobilização que envolva todos os setores da sociedade. Somente assim poderemos falar em democracia racial no Brasil.


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