Questão de Pele

Negar e silenciar também é uma forma de confirmar o racismo e impedir que o ser humano se sinta livre e digno na própria pele.

Nesta semana, tivemos mais uma prova de que o racismo está longe de ser eliminado da nossa sociedade. Os atacantes brasileiros Dentinho e Taison foram alvos de discriminação durante o jogo entre o Shakhtar Donetsk e o Dínamo de Kiev pelo Campeonato Ucraniano.

O episódio fez com que os jogadores se retirassem de campo chorando. Enquanto isso, no mesmo final de semana, no Brasil, dois torcedores do Atlético-MG insultavam um segurança no Mineirão pela cor da sua pele. Eles foram identificados, acusados de injúria racial e expulsos do programa de sócio-torcedor do clube.

Os casos, que já não deveriam mais ser um assunto, continuam sendo exemplos de atitudes recorrentes. Um levantamento, realizado pelo portal Globo Esporte, mostra que quase metade dos atletas negros das séries A, B e C  já sofreram racismo no futebol.

Mas há quem reme contra a maré do retrocesso. Duas dessas pessoas são os técnicos Roger Machado e Marcão, que comandam o Bahia e o Fluminense, respectivamente. No último sábado, eles entraram em campo com a camisa do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, iniciativa de combate ao racismo no esporte. 

Hoje, Roger e Marcão são os únicos técnicos negros na série A do  Campeonato Brasileiro e representam uma amostra das dificuldades enfrentadas por mais da metade da população do país, devido a questões de cor de pele. 

Em 2018, segundo o IBGE, pretos e pardos passaram a ser maioria no ensino superior da rede pública. No entanto, continuam à frente quando o assunto é mão de obra subutilizada, moradia com ausência de serviços básicos, parcela da população mais atingida pela violência no país, falta de representação política e tantas outras ausências de direitos fundamentais.

É claro que não devemos deixar de lado que o ambiente de um estádio de futebol é um lugar de catarse, mas isso não pode se tornar pretexto para que o pior do ser humano tenha aval para vir à tona, seja dentro ou fora dele.

“Não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas”, disse Taison à imprensa após o ocorrido”. Concordamos com ele, pois não é possível, mais uma vez, fingir que não houve nada. Negar e silenciar também é uma forma de confirmar o racismo e impedir que o ser humano se sinta livre e digno na própria pele.


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