O saber indígena que preservou a vida de 4 crianças na selva também pode salvar o planeta

Para os originários da terra não é de se admirar que quatro crianças indígenas, do sudeste da Colômbia, sobreviveram ao passar 40 dias perdidas, após ainda resistirem a uma queda de avião. Os jovens de 14, 9, 4 e um ano viajavam com a mãe e outros dois adultos que morreram, quando ocorreu o acidente na Amazônia Colombiana.

Não foi milagre! Foram gerações de conhecimento indígena em contato com a natureza que se perpetuaram, fazendo com que o grupo encontrasse na selva recursos suficientes para mantê-los vivos. Observar e respeitar a natureza – fauna e flora – com sensibilidade, orientados pela experiência outrora compartilhada pelos pais, que se saíram aos avós, foi um ativo precioso para resistir às vulnerabilidades. Há de se reconhecer também o trabalho da equipe de resgate que os encontrou em condições graves e cumpriu o protocolo para que, então, a saúde dos pequenos guerreiros fosse restaurada.   

Quiçá a reflexão mais importante dessa passagem, encorajada por extrema resiliência, é que há muito se ignora o valor do saber ancestral. Mesmo diante da blindagem aos fatos, as evidências – da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) – confirmam: sendo apenas 5% da população mundial, os povos indígenas preservam 80% da biodiversidade do planeta. 

Não diferente da esfera global, no Brasil, apesar dos ataques aos direitos e à vida dos originários, as terras indígenas são as áreas mais preservadas do país nos últimos 35 anos, de acordo com levantamento do MapBiomas.  

Seria, então, possível um futuro sustentável para o planeta sem considerar esse legado? 

A resposta tão perceptível quanto silenciada também vai aoencontro de soluções práticas, como: fortalecer a posição de líderes indígenas na política institucional; considerar os saberes tradicionais das populações locais, antes da implementação de obras de grande impacto ambiental, via iniciativa pública ou privada; na atuação com a causa indígena em organizações, firmar parceria com associações indigenistas, para gerar resultados mais efetivos; aderir às práticas agrícolas indígenas, para proteger espécies vulneráveis e reduzir o impacto de espécies indesejadas que ameaçam a produção de alimentos… 

Há um horizonte de possibilidades de aprendizados. Se quatro crianças operaram o que foi chamado de um ato milagroso, imagine os grandes feitos, além dos já mencionados, que uma população de aproximadamente 500 milhões de pessoas poderia proporcionar à humanidade?    

Como provoca o líder indígena e escritor Ailton Krenak, em “Ideias para adiar o fim do mundo”: “Se pudermos dar atenção a alguma visão que escape a essa cegueira que estamos vivendo no mundo todo, talvez ela possa abrir a nossa mente para alguma cooperação entre os povos, não para salvar os outros, mas para salvar a nós mesmos.”


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