Vulnerabilidade de povos indígenas na pandemia
A Covid-19 se alastra entre os povos indígenas de forma crítica: são quase 25 mil contaminados de 146 povos diferentes, e cerca de 700 óbitos, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB. Doenças respiratórias já são a principal causa de morte entre as populações nativas brasileiras, o que torna a pandemia atual especialmente perigosa para esses grupos.
Em meio ao avanço da Covid-19 entre os povos indígenas, o Supremo Tribunal Federal (STF) trava uma verdadeira batalha para que o Executivo tire do papel medidas de proteção às comunidades.
Além da omissão às violações contra povos indígenas, que se intensificaram durante a pandemia, a irresponsabilidade do atual governo na condução do enfrentamento da Covid-19 agrava ainda mais a situação de populações vulneráveis. O primeiro caso notificado, em março, foi de uma jovem da etnia kokama, infectada por um agente de saúde à serviço do governo. A falta de adoção de medidas preventivas faz do povo kokama o líder em casos de contaminação e morte.
AGRAVAMENTO DA CONTAMINAÇÃO
Em março, a Funai suspendeu a distribuição de cestas básicas para povos indígenas do Mato Grosso do Sul, aumentando a desnutrição e a vulnerabilidade na região. Além disso, o Governo Federal não elaborou qualquer estratégia para facilitar o acesso ao auxílio emergencial, fazendo com que muitos indígenas tivessem que sair de suas aldeias para receber o benefício.
No final de junho, a terra Yanomami, localizada em Roraima, recebeu um grupo de mulheres de militares que levavam doações de roupas. O movimento foi descrito como “ação social” pelo Ministério da Defesa, envolvendo sessões de maquiagem, pula-pula e distribuição de doces para crianças, ferindo todos os protocolos de segurança e distanciamento social.
Além disso, houve a distribuição de mais de 100 mil comprimidos de cloroquina para indígenas e outros 200 mil do antiviral popularmente conhecido como Tamiflu. Ambos os medicamentos não são recomendados para o tratamento da Covid-19 pelo Conselho Nacional de Saúde, já que não têm eficiência comprovada e apresentam alto risco para a saúde.
EXTERMÍNIO HISTÓRICO
Historiadores acreditam que cerca de 70% dos povos nativos foram dizimados por doenças infecciosas, como sarampo, cólera e febre tifóide, transmitidas pelos colonizadores que aqui se estabeleceram.
Muitos autores do pensamento social brasileiro, como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes, descrevem como as doenças contribuíram para o extermínio povos originários. O primeiro episódio da série documental Guerras do Brasil, disponível na Netflix, também aborda o assunto.
Os nossos povos originários pedem socorro e nos convocam para cobrar do atual governo medidas efetivas de enfrentamento ao alastramento da Covid-19. Muito mais do que uma #CausadaSemana, nosso objetivo é promover uma reflexão sobre o extermínio indígena em curso e valorizar a vida e a memória dos povos indígenas, o que deve ser uma causa permanente de todos os brasileiros.