Sem lugar seguro
Hoje, o mundo tem uma demanda prioritária: conter a disseminação do Covid-19. Porém, apesar do que possa parecer, suas consequências não recaem apenas sobre a saúde, a economia ou a valorização da ciência, dando mais espaço para muitas outras outras causas, que, em breve, se tornarão ainda mais urgentes, como o combate à violência doméstica.
Se, por um lado, ficar em casa já se provou como a medida mais eficaz para frear a disseminação do Covid-19, por outro, permanecer por mais tempo dentro do lar também tem sido o gatilho da explosão de tensões, expondo as vítimas de violência doméstica a uma situação de maior vulnerabilidade.O assassinato de mãe e filha na Argentina acendeu um alerta sobre a violência contra a mulher na quarentena. No país, pelo menos seis mulheres e meninas foram assassinadas nos primeiros nove dias de isolamento social, refletindo no disparo de ligações para as linhas que prestam atendimento para casos de violência de gênero.
Na China. o número de casos triplicou, enquanto a França também viu seu número de casos aumentar, fazendo com que o governo decidisse encaminhar as vítimas para hotéis e realizasse a abertura de centros de apoios em lojas, para que as mulheres pudessem procurar ajuda enquanto realizam compras.
No Brasil, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos registrou um aumento de quase 9% nas ligações para o Disque 180 e de 17% no número de denúncias registradas.
Aqui, alguns esforços também já podem ser vistos. É possível citar a pressão da bancada feminina da Câmara dos Deputados para incluir na pauta a votação de propostas para combater a violência doméstica, como o boletim de ocorrência online, ou o programa de voluntariado Justiceiras, que dá apoio e orientação a vítimas de violência doméstica através de 500 voluntárias que atuam na área do Direito, Psicologia e Assistência Social.
Um decreto, seja qual for, não consegue extinguir a violência doméstica, mesmo em frente à uma pandemia global. A brutalidade não se amedronta com isso, pois por si só também faz muitas vítimas ao redor do globo.
Ao contrário do vírus, cuja cura pode ser encontrada nos remédios, para a violência contra a mulher a solução é mais complicada. Ela passa pela ampliação do debate e da desconstrução do machismo. Porém, para que surta efeito, é preciso que durante esse período que atravessamos, de isolamento, a violência doméstica, já é tratada como uma epidemia silenciosa, não fique também escondida (e esquecida) dentro de casa.
Quer saber como é possível comunicar e agir nesses tempos de pandemia? Acesse nosso material.