Quantas causas cabem no “desaparecimento” de Bruno e Dom?
À sombra do súbito “sumiço” do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, causas muito caras ao nosso país, quiçá ao planeta, chamam atenção para um estado de emergência. O primeiro ponto a ser reiterado é o genocídio indígena, em curso há mais de 500 anos. Segundo relatório recente do do Conselho Missionário Indigenista, em 2020, o número de assassinatos de povos originários foi o maior em 25 anos, totalizando 182 execuções, isso sem considerar possível subnotificação por falta de alcance de mapeamento. O dado é apenas um ponto de sangramento na enorme ferida escancarada pelo atual governo e seu constante ataque aos direitos das populações que, em tese, deveriam ser a mais respeitadas no Brasil, seja pelo legado territorial e também pelos imensos benefícios que dispõem aos recursos naturais, sobretudo pela preservação – a muito custo – de alguns trechos da Amazônia, sitiados em aldeias.
Esses e outros valores incalculáveis inspiravam Bruno e Dom a desempenhar um trabalho extremamente comprometido em visibilizar e denunciar tantas atrocidades. O primeiro, como já sabido, foi exonerado do cargo de coordenador-geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato na Funai, pelo braço direito do então ministro da Justiça Sergio Moro, em 2019, por justamente fazer o que lhe cabia. O segundo – um jornalista que exercia seu papel social, colocando no debate global demandas urgentes ligadas ao meio ambiente e povos tradicionais.
A missão iniciada pela dupla no Vale do Javari no dia 5 de junho seria dedicada a uma investigação na região, que é a segunda maior terra indígena do país. No entanto, o local também é palco de muitas violências, já que é ocupado por grupos ilegais de madeireiros, caçadores, pescadores, traficantes, principalmente provenientes do Peru, e garimpeiros – atividade, publicamente, estimulada pelo atual (des)presidente – que faz aumentar a desnutrição infantil, o índice de contaminação por mercúrio, o número de doenças, o aumento de casos de violência e a exploração sexual de meninas e mulheres.
Philipi estava trabalhando em uma reportagem que integraria seu livro chamado “Como Salvar a Amazônia”, mas, desde então, pouco se sabe do paradeiro dele e de Bruno, seu parceiro de empreitada. A população local relata que a mobilização de buscas oficiais demorou muito a acontecer. Afinal, a quem interessa resguardar a vida de dois defensores da Amazônia e povos indígenas? A quem interessa resguardar o maior bioma do mundo? Ou, mesmo, a quem interessa avalizar e apoiar ações de desmonte que atacam frontalmente esses que são nossos maiores patrimônios?
Aniquilamento dos direitos indígenas; sucateamento da Funai e órgãos de fiscalização ambiental; atentado violento à liberdade de organização (ativismo) e de imprensa; ataque aos Direitos Humanos; descaso com a Amazônia…
Quantas causas cabem no suposto sumiço de Bruno e Dom?