O paraíso é longe daqui
📸 Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
Paraisópolis fica na zona de Sul de São Paulo e separa-se, por um muro, dos prédios de luxo do bairro do Morumbi, região nobre da cidade. Esta pequena distância entre os CEPs gera grandes diferenças entre os moradores da comunidade e aqueles que residem nas torres que a cercam – incluindo expectativa de vida e uma série de limitações de direitos.
A população da favela vive ali, espremida pelas desigualdades e pela estreiteza de becos, que nesta semana, foram usados para encurralar jovens que participavam de uma festa, o que deixou o rastro de 9 mortes após um tumulto ocorrido depois de uma ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
A corporação alega que os agentes da PM entraram no local para perseguir supostos criminosos, enquanto vídeos mostram policiais agredindo jovens rendidos em vielas da favela.
A ação de força desproporcional não ocorre de forma isolada no país. Nesta semana, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou um policial militar pela morte da menina Ágatha, atingida por uma bala enquanto voltava de um passeio com a mãe. A investigação segue. Como segue também a apuração do caso que resultou na morte do músico Evaldo, após o carro em que estava com a família ser atingido por 80 tiros disparados por militares no começo deste ano. Todos sem desfecho.
Os crimes, em todos esses casos, dão a sensação de que o único delito cometido pelas vítimas é o fato de serem negros, pobres ou moradores de favelas, já que o CEP continua sendo um grande definidor de acesso a direitos.
A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. O número é um pequeno recorte da realidade que vivemos no país, que flerta cotidianamente com a desumanização, que cala a voz, a substitui por medo e arranja desculpas para ações imperdoáveis.
Os últimos acontecimentos deixam claro que a política de segurança pública do país tem falhado na missão de proteger – mas é bem-sucedida na função de amedrontar, com violência indiscriminada, principalmente uma parcela considerável da população.
É preciso retirar as lentes racistas que tapam a visão da sociedade e fazer com que todos enxerguem que não é aceitável que uns sejam mais favorecidos do que outros, principalmente em relação ao acesso a direitos básicos, como é a segurança pública e o direito de ir e vir. Nenhuma vida vale menos. Todas importam.