O desmonte da ciência no “país da Terra plana”
As autoridades que lideraram as principais instituições públicas responsáveis pela área no país, entre 1985 e 2016, permaneceram, em média, pouco menos de dois anos no cargo.
Nos últimos dias, a comemoração dos 50 anos do homem na lua, fato histórico para humanidade, voltou a colocar a ciência e a inovação na pauta da sociedade. Mas a semana que tinha tudo para ser de festa, terminou com um gosto amargo para o Brasil, que ainda luta com uma série de entraves para seu desenvolvimento.
Diante da frequente redução de verbas destinadas a iniciativas que contribuem para a geração de conhecimento e da desvalorização de dados científicos pelo presidente da República, elegemos a VALORIZAÇÃO DA CIÊNCIA como a #CausaDaSemana.
Os entraves para gerar inovação no Brasil são crônicos. As autoridades que lideraram as principais instituições públicas responsáveis pela área no país, entre 1985 e 2016, permaneceram, em média, pouco menos de dois anos no cargo.
O tema virou assunto de livro, recém-publicado pelo MIT, um dos institutos de pesquisa mais respeitados do mundo, dando a impressão de que os nossos embaraços são levados mais a sério lá fora.
Consequência direta ou não, o Brasil também caiu duas posições no ranking de países mais inovadores do mundo. Agora, ocupamos a 66ª posição, entre as 129 nações ranqueadas. Entre os parceiros do Brics, o Brasil já é o menos inovador, estamos na lanterna.
Nesta semana, não se salvaram nem os órgãos que já são referência internacional em inovação, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que teve sua credibilidade colocada em xeque pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
Para os cientistas, que defenderam a instituição, o problema vai além das críticas pontuais e coloca os dados e metodologias científicas em uma posição perigosa de descrédito.
Achou pouco? O CNPq também anunciou que vai suspender seu edital para bolsas de pesquisa por falta de recursos. Este é o terceiro ano seguido de queda no orçamento da organização.
Em paralelo, a confiança dos brasileiros na ciência também vem caindo. Em um levantamento recente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 90% dos entrevistados não souberam citar o nome de um cientista. No entanto, dois terços dos participantes do estudo concordam que a verba investida em Ciência deveria, na verdade, aumentar.
O Brasil não é um país simples. Nas escolas, alunos têm problemas para a assimilação de disciplinas básicas, o que pode ser responsável por limitar muitas das possibilidades de inovação. Ainda assim, o problema parece morar nas estruturas: declarações como as de Bolsonaro em relação ao Inpe, feitas nesta semana, mostram que até mesmo políticos dos mais altos escalões acreditam que o futuro pode ser construído mais tarde.
Mas o futuro precisa ser estruturado agora, por meio do incentivo à inovação, projetos de integração da academia com as iniciativas privada e pública, de investimentos e valorização do conhecimento. Um país que nega isso está sujeito à estagnação – para não dizer retrocesso. Sem ciência não vamos longe – afinal, você acha que o homem pisou na lua como?