Mar de óleo e omissão
Se por um lado, a mobilização surpreende de forma positiva, por outro, se torna impossível ignorar a omissão do governo federal diante da tragédia.
Crédito: PCR/Apa da Costa dos Corais
Nos últimos dias, as cenas de moradores limpando as praias atingidas pelas manchas de óleo no Nordeste chamaram a atenção para dois temas distintos: a capacidade de mobilização da população em torno de uma causa e a omissão das autoridades, mesmo diante da terceira grande tragédia ambiental no país neste ano.
Hoje, são centenas de voluntários que, por conta própria e sem equipamentos de segurança, tentam recuperar as praias e amenizar as marcas que a tragédia deixou pelo caminho. São mais de 200 pontos atingidos, em nove estados brasileiros.
Se por um lado, a mobilização surpreende de forma positiva, por outro, se torna impossível ignorar a omissão do governo federal diante da tragédia.
A demora foi tanta que o Ministério Público questiona a falta de agilidade dos órgãos responsáveis. A razão para a lentidão têm raízes mais antigas. Em abril, foram extintos os comitês do plano de ação de incidentes com óleo. A exclusão aconteceu na mesma época do esvaziamento de outras instituições federais.
Nesse cenário, vale destacarmos a iniciativa de duas marcas que, diante da omissão das autoridades, decidiram assumir responsabilidades que tradicionalmente são atribuídas aos agentes públicos. A cerveja Corona, em parceria com a ONG Parley for the Ocean, parou a operação do seu time e realizou um mutirão para retirar óleo em praias de Aracaju e Recife. Foram mais de 300kg de petróleo recolhidos nessas regiões.
Já o time de futebol Esporte Clube Bahia, que possui um núcleo voltado para causas sociais, entrou em campo, na última segunda-feira, com camisas que remetiam às manchas de óleo como protesto contra os vazamentos. Os uniformes irão a leilão e a renda será revertida para trabalhos de contenção da tragédia.
Hoje, pagamos um preço alto demais por mais uma guerra ideológica, que preocupada em desfazer as estruturas antigas, não percebeu a necessidade de reconstrução.
Alguns voluntários já relatam problemas de saúde. O alastramento do óleo ameaça tartarugas, aves e peixes – animais que, inclusive, estão à beira da extinção do Brasil. Além disso, o prejuízo econômico deve ser grande e milhares de famílias que dependem da pesca e recursos naturais desses locais devem ser afetadas.
Enquanto isso, o Nordeste tenta se salvar – pelas mãos dos próprios nordestinos.