Cooperação humanitária em favor do Líbano
As imagens impressionantes da explosão em Beirute, capital do Líbano, na última terça-feira correram o mundo e deram uma dimensão da tragédia. Até agora são mais de uma centena de mortes e 300 mil desalojados. Um terço da cidade está coberta de escombros e estilhaços, com danos materiais estimados em bilhões de dólares. O estrondo ensurdecedor foi ouvido no Chipre, há mais de 200 km do local.
A explosão em Beirute ocorreu na zona portuária e foi motivada pelo mal armazenamento de toneladas do químico inflamável nitrato de amônio. Os silos de grãos foram destrídos, prejudicando 80% do estoque libanês de trigo, num país em que o pão é a base das refeições.
A tragédia se soma à crise sanitária, provocada pela pandemia do novo coronavírus, e à crise política e econômica que já dura mais de nove meses e deixou quase metade dos 4,5 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza. Os preços dos produtos básicos aumentaram 60% e mais de 200 mil trabalhadores (35%) perderam o emprego nos últimos meses.
Os mais jovens são incansáveis nos protestos e ocupam as ruas constantemente para clamar por reformas e derrubada da elite política, acusada de esvaziar os cofres estatais e distribuir poder em função de cotas religiosas.
Há ainda mais um agravante financeiro no país, que importa 80% do que consome para sobreviver: o Líbano é um dos que abrigam maior número de refugiados por mil habitantes, com um total de 1,5 milhão de refugiados sírios e 400 mil palestinos.
ESFORÇO INTERNACIONAL
Em julho, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, já havia alertado para a necessidade de ações humanitárias e cooperação internacional para tirar o Líbano da crise. O apelo ganha tom emergencial.
O embaixador do Líbano em solo brasileiro, Joseph Sayah, declarou ao G1 que conta com a ajuda do Brasil para enviar insumos hospitalares, materiais de construção e principalmente alimentos.
Alguns setores da sociedade brasileira já se mobilizam para enviar ajuda, como o grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) que está organizando uma campanha para sensibilizar as autoridades brasileiras a facilitar o envio do estoque de 40 mil cm² de pele de tilápia às vítimas da explosão, já que o material tem efetividade comprovada no tratamento de queimaduras.
Vale lembrar que temos relações históricas com o país do Oriente Médio. A comunidade libanesa que vive aqui tem cerca de 12 milhões de pessoas, um terço da população do Líbano, que enriquecem nossa cultura com sua culinária, arte, engenharia e medicina – vários profissionais de origem árabe estão na linha de frente da luta contra a Covid-19.
O momento é de solidariedade. Que o governo brasileiro não meça esforços para contribuir com as ações humanitárias na região. Que os feridos possam se recuperar logo e que o país faça valer a metáfora da estátua da Fênix, idealizada pela artista Hayat Nazer e erguida em 2019 na Praça dos Mártires, região central de Beirute.