Buraco sem fundo
Essa semana foi marcada por uma série de lutas. Houve manifestações de mulheres indígenas, do campo e protestos contra os cortes na educação. São causas fundamentais, no entanto, também nos chamou a atenção os bloqueios de repasses ao Fundo Amazônia, que acontecem justamente quando iniciativas e órgãos de proteção ao meio ambiente sofrem um desmonte no país, como já falamos em outras oportunidades
Impactados por esses fatos, elegemos a Defesa da Amazônia como a #CausaDaSemana.
Nos últimos dias, as manifestações contra as políticas ambientais vigentes não ficaram apenas em território nacional. A insatisfação chegou à embaixada brasileira em Londres, que foi alvo de manifestações de ambientalistas, e ainda respingou em outros países do “velho continente”.
A Alemanha decidiu suspender suas doações para o Fundo Amazônia, criado para ajudar na prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento da floresta. Logo em seguida, foi a vez da Noruega, a maior contribuinte da iniciativa, declarar que também se retiraria.
Tudo porque, para as duas nações, já não é mais possível afirmar que o Brasil está comprometido com a redução do desmatamento.
Vale destacar que o Brasil tem sua credibilidade questionada no mesmo momento em que países europeus intensificam esforços para recuperar suas florestas.
Não podemos permitir o desmate da Amazônia. Neste aspecto, sem dúvida, é necessário que o empresariado e a indústria brasileira se posicionem, como afirmou recentemente Walter Schalka, presidente da Suzano, mas também encarar este momento de luta como uma responsabilidade de toda a sociedade e não apenas de setores isolados.
É preciso evitar o desvio de rota que está sendo traçado. As perdas atuais já mudaram o clima da região e a perspectiva não é animadora. Segundo especialistas, se a taxa de desmatamento ultrapassar 25% de perda da cobertura original, existe o risco de a floresta se tornar uma savana. Precisamos de efetividade, de compromisso com os objetivos climáticos e com o rumo do país.
É fundamental que as autoridades entendam que o desmatamento que ocorre nas florestas é majoritariamente ilegal, e alertar o poder público de que muitas vezes os projetos que buscam dar “celeridade” aos processos de licenciamento ambiental, na verdade, resultam em desmanches das estruturas de defesa da natureza.
É urgente fazer com que governantes e a iniciativa privada se atentem para o fato de que apoiar a proteção do meio ambiente é ser favorável também ao desenvolvimento econômico do país, tão necessário em uma nação desigual como a nossa. Já é de conhecimento geral, por exemplo, que a agropecuária brasileira pode ser compatível com a conservação ambiental e é capaz de se desenvolver sem a necessidade de derrubar árvores.
Se nossos representantes insistirem em considerar os dados de desmatamento como algo ideológico, ignorando que eles têm embasamento científico e representam a realidade, isso pode sinalizar não apenas o despreparo deles em encarar um dos principais problemas do país, mas o risco de a Amazônia virar, literalmente, um buraco sem fundo.