Destaque em Cannes, cultura brasileira ainda sofre por aqui. Por quê?
Na última semana, 4 filmes produzidos por brasileiros foram escolhidos para participar do Festival de Cannes. Entre eles se destaca Bacarau, trama que conta a história de uma comunidade rural que some do mapa após a morte de uma de suas habitantes.
Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Bacurau é o primeiro filme brasileiro a disputar a Palma de Ouro, principal categoria do evento, em 11 anos.
Tinha tudo para ser uma grande notícia, não fosse o período sombrio pelo qual passa a promoção da cultura no Brasil. Por entender que os esforços para mantê-la viva é essencial para reforçar nossa identidade, elegemos o INCENTIVO À À CULTURA como a #CausaDaSemana.
O primeiro sinal de que as coisas vão mal é a situação da Ancine. A agência suspendeu o repasse de verbas para o setor audiovisual nesta semana. A decisão veio depois do Tribunal de Contas da União apontar irregularidades na fiscalização de contratos da agência e ordenar a paralisação das suas atividades. O resultado é que, por falta de gestão adequada, a principal financiadora do audiovisual brasileiro está paralisada.
O corte de apoio da Petrobras é outro exemplo do mal momento da cultura. Uma das principais apoiadoras de projetos culturais no país, a empresa deixou de patrocinar 13 iniciativas culturais depois de uma revisão de suas políticas.
Para completar, temos a polêmica da Lei Rouanet, que sofreu diversas mudanças. A maior delas no teto de captação. O valor diminuiu de R$ 60 milhões para R$1 milhão.
A decisão divide opiniões. Para alguns, as mudanças podem inviabilizar as produções de grande porte no país. Para outros, a reformulação dá a oportunidade de que os recursos não fiquem concentrados e contemplem mais regiões do Brasil.
Falta ao governo enxergar o incentivo à cultura como ele realmente é: um investimento no futuro do país. Nenhuma nação desenvolvida floresceu deixando de lado o que seu povo tem de mais genuíno.
A sociedade civil também precisa fazer a sua parte, pressionando seus representantes para que lutem pela democratização e fortalecimento da cultura.
Enquanto isso, permanecemos em uma eterna espera de que um dia a área seja tratada como o setor primordial que deveria ser. Talvez ajude lembrar das palavras do Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”. E sem ela estamos fadados a ficar cada dia menores.